quarta-feira, 3 de setembro de 2008

(2008/6) Angústia

1. Não é fácil a autonomia. É angustiante. Se creditasse a terceiros o critério da verdade, bastaria recostar-me ao colo e dormitar. As noites seriam tranqüilas, os dias, calmos, a vida, plácida - a verdade, translúcida. E, contudo, uma chispa do fogo de Prometeu caiu em minhas roupas, e incendiou-me corpo e carne - e não há mais noites de sono reconfortantes.

2. Minhas angústias são muitas. Algumas, graves. Terei esolhido devidamente os problemas com que lidar? Escolhidos os problemas com que lidar, estarei eu me aproximando adequadamente deles? Estarei eu selecionando convenientemente os modos de acesso aos problemas?

3. Quando você não escolhe os assuntos da moda, os dos jornais, os das revistas, quando não interessam a você os temas da massa, e você está relativamente só, o que é isso - excentricidade quase patológica ou intuição profunda dos themata de amanhã?

4. Enfiado até o pescoço com teologia, encaro-a adequadamente?, mas contra a corrente majoritária? As massas, excitadíssimas cada vez mais de aleluias e améns; os teólogos, cada vez mais ciosos dos anjos ou das metáforas. E eu, cada vez mais distante, mais inacessível, mas surdo e mudo. Mais só.

5. A epistemologia não é um tema fácil - escolher a plataforma de acesso aos problemas angustiantes. Não encontro - haverá? duvido! - um metaponto, uma metaposição, uma metaperspectiva, desde a qual, mirando o mundo, fique tudo claro. É preciso arriscar, e, tendo arriscado, verificar tudo a partir da escolha epistemológica, já que saber, sentir e querer não se tocam, intercomunicam-se, apenas.

6. Uma vida assim é muito angustiante. Ao final dela, que terá sucedido? Apenas o gotejar inexorável das horas, mas com dor? Ou - sem que eu possa saber, nem ver, nem colher seus frutos, agora - a introdução no seio da terra de alguma semente, cujas raízes e caules não chegarei a ver crescer?

7. Quem pode me dar a resposta?

8. "A solidão é fera, a solidão devora/ É amiga das horas prima irmã do tempo/E faz nossos relógios caminharem lentos/ Causando um descompasso no meu coração (...)/ A solidão dos astros/ A solidão da lua/ A solidão da noite/ A solidão da rua".

Osvaldo Luiz Ribeiro

Um comentário:

Elias Aguiar disse...

Não tão "mudo", assim... o que é muito bom.

Abraço fraterno,
Elias Aguiar