sexta-feira, 5 de setembro de 2008

(2008/7) Científica solidão

1. Devo confessar - foi ainda de dentro dA República, de dentro dA Cidade de Deus, no Castelo Forte, que descobri, entre 1987 e 1990, que a Verdade era um construto epistemológico, e que a Teologia consubstanciava-se na forma de um Mito atualizado - mitos são incontornáveis, mas, suas concretizações, são perigosas.

2. Daí em diante, a Teologia tornou-se imprestável para mim. Passei para/pela Fenomenologia da Religião, ainda acalentando, como ainda acalento, uma Transformação da Teologia. Foram dias de iniciação mística aqueles com Mircea Eliade - uma mística, não um misticismo, racional. Mas, ao fundo, a Velha Mãe, zelosa e ciumenta, amantíssima de mim, me chamando - volta, meu filho, que aqui é seguro e confortável. De fato. Mas só para os que nunca abriram a janela (Matrix).

3. Enquanto subia o Monte Fenomenologia da Religião, descansei sobre um platô a meio caminho - a Epistemologia. Lá, Platão e Aristóteles me disseram o mesmo que Arquivo X - the truth is out there. E, enquanto eu me decidia entre "receber" a Verdade e "descobrir" a Verdade, os românticos do 19 me perguntaram - mas que Verdade? A pressuposição de que, eventualmente, não há a Verdade, e que, de qualquer modo, não há como saber, é uma verdade, não uma Verdade.

4. Continuo subindo a encosta, que Dawkins, a seu modo, chama de Monte Improvável. Ei - a ciência! Talvez ela, quem sabe?, me ajude, me dê chão, me faça a paz, me dê iguais.

5. E, no entanto, Michel Paty se aproxima de mim, cheirando a laboratório, ainda: "a ciência atual, apesar de todos os seus meios, está muito menos segura de si que outrora: não porque 'lhe falte uma alma', mas porque sabe que está condenada ao desconhecido (...) A crise, hoje, seria sobretudo de uma lucidez obrigatória, sabendo que nada, fundamentalmente, logicamente, pode nos ajudar e que, de certo modo, o pensamento está sozinho no mundo; ele não pode evitar doravante assumir esa solidão" (Michel Paty, A Matéria Roubada. São Paulo: EDUSP, p. 32-33).

6. Esquecera-me, sim, esquecera-me, por um lapso de tempo, que Pascal já me dissera, há anos, que o Universo é um peso a me esmagar, e eu, um caniço quebrado - e que, contudo, eu sei disso. A lucidez será saber que isso é tudo que saberei, não importa quão fundo eu cave, tão alto eu voe?

7. E no entanto, minhas unhas são de toupeira cega - eu cavo, e minhas asas, ah, permitam-me, como as daqueles belíssimos anjos que voam, carregando, em si, a marca do maravilhoso.

Osvaldo Luiz Ribeiro

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